sábado, 25 de abril de 2015

O fiasco na rua ou O que os pais sentem



O mal da Birra



Se tem uma coisa que sempre chega, tão certo como o nascimento dos dentes, é a tal da birra pública ou o  temido fiasco na rua. Certamente você e o seu filho já saíram de casa algumas vezes, vão ao supermercado quase diariamente, já foram a pracinha, visitaram alguns amigos, participaram de almoços em família, compras no shopping e consultas ao pediatra, talvez já tenham até mesmo feito a primeira viagem de férias.

 Até que num belo dia, de preferência perto do momento de voltar para casa, a coisa acontece. Aparentemente vinda do nada a cena se desenrola na velocidade do constrangimento, o mesmo não de sempre parece ser de agulhas, de repente seu filho travou no mesmo lugar e decidiu dar aquele espetáculo. É possível que ele esteja vivendo os 2 anos de idade, ele sabe caminhar muito bem, mas acabou de ficar extremamente cansado para qualquer coisa e decidiu grudar na sua perna aos berros, ou simplesmente não quer sair de um local (talvez a pracinha), ou largar algum objeto (de preferência numa loja).

E agora onde você está? A meio passo de ficar louco? Querendo morrer de vergonha? Desejando fechar os olhos e tapar os ouvidos? Desejando ardentemente que a coisa acabe? Possivelmente tudo isso junto e misturado. Sim, o fiasco na rua é das piores experiências emocionais que os pais podem vivenciar em termos de desenvolvimento emocional de um filho, é o momento do pagar para ver, afinal a situação é pública, e tem muita gente que até poderia nem ter notado vocês, mas que de repente tem interesse genuíno em saber como a cena termina.

Se serve de consolo vou dizer que você tem opções, você pode colocar a criança embaixo do braço e sair andando, pode ceder e pegar no colo, ou deixar mais tempo na pracinha, ou comprar o objeto que ela não quer soltar. Pode tentar negociar com ela, normalmente essa conversa começa com ''se'' ou ''que tal'', se você caminhar comigo ganha um biscoito, que tal a gente comprar um picolé no caminho para casa, etc. Você também pode ficar muito puto e ter um chilique junto com o seu filho, gritar e esbravejar que ele vai ver só uma coisa, quando a coisa que ele vai ver é a sua cara de alívio quando fechar a porta de casa e estiver a salvo da rua. Você também pode se sentir muito mal porque seu filho não pode ter todas as coisas, e amargar uma tarde com sentimento de culpa enquanto ele soneca e nem lembra mais o que queria tão firmemente. Ou pode começar o perigoso ciclo do ''o que foi que eu fiz de errado?'', cuidado, esta opção costuma ter mais de uma tarde de culpa e costuma se estender por telefonemas longos com as amigas que também são mãe, tudo isso enquanto a criança tira a soneca. E também pode se perguntar o que seu filho tem de errado, afinal ele nunca foi assim, alguma coisa deve estar acontecendo, de qualquer forma não comece a planejar uma consulta com o pediatra, é muito precipitado. E claro, você pode se aproximar do seu filho, tocá-lo, esperar ele se acalmar, se abaixar até que os olhares se encontrem, e dizer para ele muito de boa que não vai rolar, agora vocês precisam ir para casa, levantar e pegá-lo pela mão.

Todas as opções são válidas, quem é pai ou mãe passa a fazer escolhas tão automaticamente que nem nota. Não é fácil pensar sob estresse, sob pressão, não é fácil lidar com o conflito, mesmo que ele não seja unicamente seu. Sobretudo acredito que lidar com o conflito dos filhos é entrar em contato direto com nossos próprios conflitos, medos, angústias, enfim, uma miríade de sentimentos não muito claros e quase sempre ambíguos. De repente você se depara com lembranças, e nem precisam ser de infância, algo mais próximo, como o dia aquele no restaurante, em que você já era adulto e assistiu uma cena, e mesmo antes de pensar se desejaria ter filhos, pensou: o meu filho jamais vai fazer isso. E se fizer, faz uma vez só. Agora você chegou em casa após esse episódio e sabe: o seu filho fez ''isso''. Vocês dois acabaram de viver um marco da educação infantil.

O lado positivo é que você é um iniciado, seja lá como for que tenha reagido, não depende da opção que você escolheu, vocês acabaram de viver o primeiro episódio de birra infantil na rua, e isso ficará marcado em ambos, pode acreditar que a gente lembra de uma cena por muito tempo, de certa forma esta foi uma oportunidade bem singular, daquelas onde a crueza dos instintos e dos desejos transbordam feito um tsunami. A angústia que você viveu até decidir qual atitude tomar acabou de se aprofundar numa reflexão, por um momento foi possível observar seu filho de uma maneira antes impensável. Não gaste muito tempo com a culpa, com a neurose do porquê, não se recrimine por ter cedido, apenas abra espaço para sentir as suas emoções, pode puxar o constrangimento ou o arrependimento para uma valsa, mas não mais que isso, reconheça seus sentimentos mas não se deixe ser tomado por eles, afinal isso foi exatamente o que aconteceu com o seu filho no meio da rua. Ele foi tomado por si mesmo e perdeu o controle ou a capacidade de voltar ao eixo sozinho. 

Passado esse primeiro momento de solidão com os seus sentimentos, isto é: aproveite a soneca do seu filho ou o seu momento a sós a noite, para de fato pensar sobre o que houve. Se não é possível escolher bem no calor da hora, é sim possível pensar bem de cabeça fria, e de preferência com ninguém lhe chamando a cada 5 minutos. As birras infantis tem inúmeros motivos, podem ser características da faixa etária, podem estar associadas a mudanças na vida da criança, mesmo que sejam pequenas, as crianças tem uma sensação de segurança diferente da nossa, coisas pequenas podem sim interferir no quanto elas se sentem angustiadas com a sua segurança, podem ser um comportamento que já vinha ocorrendo numa escala menor, pequenas teimosias acabam por se transformar em grandes eventos também. Independente do motivo da birra infantil é preciso estar acordado sobre como você acha que seja adequado para você e seu filho resolver isso. Por mais livros que se leia, pensando bem quase todos os pais sabem identificar as motivações dos próprios filhos, pais sabem o que é manha e o que possui uma motivação particular, o que é falta de controle emocional e o que pode ser uma simples afronta de poder. Os pais sabem. 
Eu vou dizer o que possivelmente já é óbvio: se aconteceu uma vez, possivelmente vai acontecer de novo. Até mesmo as crianças mais assustadas com uma reação forte dos pais pode demorar alguns dias para repetir a cena, mas ela vai repetir, seja como uma forma de ganhar atenção (até mesmo uma reação forte exige atenção e dedicação para acontecer), seja para descobrir o resultado de sua pequena audácia.
E também porque se você já conseguiu ensiná-lo a não abrir todas as gavetas, deve lembrar de quantas repetições foram necessárias até que a mensagem fosse de fato assimilada. Crianças precisam de constância, isso é quase um jargão. E como elas obtém constância? Ora, fazendo a prova. Seu filho não é um sádico que está apenas te testando porque não tem nada de melhor para fazer da vida, não, é a maneira que ele tem de encontrar os limites, de saber o que pode e não pode fazer. No fim, a criança quer que você, o adulto, determine o que ela pode ou não fazer. Simples assim.
E agora, o que você pretende fazer com isso? Qual vai ser a atitude na próxima deixa?

Não acredito em receitas instantâneas para criar filhos, acredito que mesmo receitas de bolos podem sair diferente do esperado dependendo da farinha usada, acredito que a química existente entre os ingredientes varia, acredito que até o gás pode acabar no meio do assado (parece justo dizer que o gás acaba quando os pais estão exaustos demais para pensar no que é bom ou não).

Mas acredito que você possa pensar sobre isso, e observar o que tem se passado com seu filho para tentar perceber quais ingredientes estão em desacordo nessa receita que tem desandado.

- Crianças precisam de limites? Se sim, que limites são esses?

- Essas cenas, pequenas ou grandes, também acontecem em casa? Se sim, observe em que momentos elas ocorrem e como você reage em casa. Ele/ela estava cansado? Pulou algum momento de sono? A teimosia começou quando você estava ao telefone ou ocupado com algo só seu? É importante prestar atenção para o momento chave, descobrir porque pode ser tão importante como escolher que atitude tomar.

- E a pergunta mais chatinha: Você tem sempre a mesma reação ou ela muda conforme o contexto em que a situação ocorre?

Tendo ou não as suas respostas claras, pense e decida qual atitude tomar e se prepare para quando for necessário, uma vez que você entre num acordo íntimo sobre o que deve ser feito, boa parte do serviço está feito, mesmo que algumas pequenas frustrações surjam, não tenha medo, não tenha vergonha, não pense que nada tem solução, viva as situações, não se descabele demasiado por elas, e tire seu tempo de cabeça fria para decidir o que fazer. Pense que cada momento é um momento para descobrir, viva, sinta, pense, investigue e decida, até que a medida certa chegue para vocês. A cozinha nunca para, os pais sempre podem dormir e comprar mais gás pro dia seguinte, é disso que a vida é feita: o fiasco na rua também é vivência

O sono das crianças

 Fácil ou difícil?


Minha filha sempre dormiu bem, digo sempre mesmo, com 4 meses ela já dormia de 6h a 7h por noite sem despertar, e depois disso só foi aumentando seu tempo de sono até alcançar 12h de sono sem despertar, e atualmente 11h dormindo direto a noite.
Como alguns pais eu comecei do começo: ela chegou do hospital e sempre foi colocada no seu berço para dormir, claro que o fato de dividirmos o mesmo quarto me deixou mais tranquila para saber que estaria perto caso ela precisasse, e durante o dia eu usava uma babá eletrônica ligada na cozinha enquanto ela cochilava.
 A maioria dos pais deve saber que um bebê recém nascido na verdade dorme muito facilmente após uma mamada e uma troca de fralda, se ele está alimentado, limpo e sequinho, ele irá adormecer naturalmente.
Uma das curiosidades que promove essa facilidade em adormecer é que um recém nascido não consegue estar em contato com seus cinco sentidos ao mesmo tempo, ele possivelmente só consegue perceber dois sentidos de cada vez, quando a gente deixa os bebês enroladinhos para dormir também os ajudamos porque os espasmos musculares que são comuns durante o sono são muito assustadores para esses pequenos recém chegados, que ainda não possuem percepção própria dos seus membros, assim se o braço do bebê se mexe durante um espasmo pode ser que ele desperte justamente pelo susto!
É claro que você não pode deixar seu bebê enrolado no verão, apesar de não serem capazes de regular sua temperatura corporal sozinhos até os 3 meses de idade, eles podem ficar febris quando muito agasalhados, o consenso geral diz que o bebê deve vestir o que estamos vestindo e mais uma camada de roupas, ou seja: ele não pode sentir frio, mas deve se manter abrigado e confortável, nada muito diferente dos pais.
Conforto e boa alimentação é basicamente o que se precisa nessa primeira fase do sono e do dia a dia. Conforme o bebê cresce ele passa mais tempo acordado, de certa forma é como se o seu cérebro estivesse pronto para ter mais contato com o universo que o rodeia, e assim como seu filho se torna mais participativo e ativo, o sono dele também muda, as mamadas se espaçam e os primeiros choramingos de atenção chegam, de certa forma ele começa a dizer que precisa de ajuda para se sentir seguro.

Algumas vezes a gente pensa que basta embalar e pronto, e de fato funciona, o problema é que o bebê ganha peso rapidamente, e você logo começa a se sentir um tanto cansado para repetir esse ritual toda vez que a hora do sono chega... Dores nas costas são comuns. E também ele pode despertar logo que sentir que saiu do colo e foi colocado na cama ou no carrinho...

É claro que passei por isso, como toda mãe ou pai sempre desejei que minha filha soubesse que eu estava ali com ela, e como não dizer? É muito gostoso ter um filho dormindo nos nossos braços, a gente se enche de amor e hormônios. Até que o corpo começa a cansar e o bebê a despertar pouco tempo depois de ter sido colocado no berço.
O que aconteceu exatamente?

Bom, o que aconteceu é que assim como os adultos, os bebês e crianças também possuem ciclos de sonos, curtos e longo, sono leve e sono profundo, conforme vamos ficando mais velhos esses pequenos despertares não são sentidos, a gente vira de lado, acomoda o travesseiro e nem lembra. O bebê desperta entre um ciclo e outro, e percebe imediatamente que não está na mesma condição daquela em que adormeceu. Então ele fica alerta e chora. Algumas vezes se você esperar um pouco, e eu digo realmente um pouco, 3 minutos, pode ser que ele volte a dormir sozinho, mas talvez isso não funcione ainda, se ele não tem o hábito de adormecer na cama.

O que eu fiz quando aconteceu comigo?

Primeiro preciso dizer que havia lido A encantadora de bebês  que é um livro muito bacana sobre rotina, e vai além disso pois aborda também questões de temperamento, ansiedade de separação, alimentação ( do aleitamento materno aos sólidos na dieta), e claro, fala também sobre o sono. Esse livro foi fundamental para mim, principalmente no que se refere a amamentação, e embora respeite muito todas escolhas sobre este assunto, o que mais funcionou para mim e para minha filha foram as mamadas regulares. Embora conheça muitas mães que aderem a livre demanda e não possuem nenhum problema consequente disso, como eu digo sempre: vale a pena experimentar aquilo que melhor se ajuste a você e o seu filho, livros não são bíblias da maternidade, eles são sobretudo uma oportunidade de reflexão e aprofundamento como maneira de poder ter novas possibilidades. 

Depois de ter acostumado a minha pequena a adormecer no colo, e isso funcionar no começo, quando ela começou a despertar logo em seguida, percebi que não estava dando certo para nenhuma de nós duas, ela ficava com o sono cortado e eu cansada de fazê-la dormir. 
Foi aí que pensei que deveria acostumá-la gradualmente a ficar afastada do meu corpo, então quando percebia que o sono se aproximava, deitava com ela na minha cama, de bruços e ficava acarinhando até ela adormecer, quando percebia que a respiração dela ficava mais profunda, a movia para o berço. Deu certo, por um tempo...
Então voltamos para o colo, mas ao invés de deixá-la dormir no meu colo, quando ela estava quase adormecendo a colocava no berço, e buscava tranquilizá-la com aquelas palmadinhas no bumbum, ou simplesmente deixava minha mão sobre suas costas, até sentir que ela havia adormecido de todo. Assim a cada dia fui colocando ela no berço cada vez mais desperta, assim que percebia os indícios de sono, nós íamos para o quarto, e eu ficava lá até ela adormecer, aos poucos fui saindo do quarto enquanto ela ainda estava desperta, até que aos 8 meses eu já dava boa noite depois de um breve momento.

Como nós tínhamos mamadas e refeições em horas certas, nunca alimentei minha filha quando ela despertava durante a noite, pois sabia que ela estava bem alimentada. 
Esse método funcionou muito bem para nós duas, eu nunca pensei que fosse fome, poderia ser os dentinhos nascendo ou um resfriado chegando.

O que ajuda uma criança a dormir?

- Ter uma rotina, e como toda rotina, ser flexível, eventualmente não faz mal sair da rotina, afinal existem dias diferentes para os adultos, por que não para as criança?
- Ter uma boa alimentação durante o dia, um corpo abastecido é um corpo pronto para repousar e se desenvolver, lembre sempre que o sono é fundamental para um bom desenvolvimento físico, neural e psicoemocional, sono é saúde. Procure saber quantas horas de sono são necessárias para a faixa etária do seu filho, ele será um adulto mais feliz e seguro.
- Manter a temperatura do ambiente agradável, nada de calor ou frio, procure o equilíbrio, frio ou calor podem causar desconforto e despertar noturno.
- Evite atividades muito estimulantes no fim do dia, entre 18h30 e 19h o corpo já libera substâncias essenciais ao sono, assim como o hormônio do crescimento começa a ser liberado em torno de 23h/0h, e é melhor aproveitado durante a fase de sono profundo, então vale a pena seu filho dormir cedo. Super estimular seu filho no final do dia pode deixar o sono dele agitado ou mais difícil de acontecer.

 - Crianças que não dormem o suficiente apresentam maior irritabilidade, e podem se frustrar mais facilmente em situações comuns, tenha em mente que o cansaço nos deixa mais sensíveis e próximos da exaustão. Nem sempre uma criança mais cansada dorme bem, cuidado com aquela fala precoce de que ''se ele se cansou bastante, vai dormir logo''
Assim como nós crianças muito cansadas podem achar difícil relaxar para encontrar o sono, o ideal é um período de transição, chegar em casa depois de uma festinha pode ser a pedida ideal para um banho bem relaxante e um pouco de estória na cama!

E como a autora de A Encantadora de bebês diz: quando a gente se acostuma, tudo muda novamente. Crianças se desenvolvem fase a fase, mas não choramingue, é sempre possível reencontrar a tranquilidade e a maneira adequada para todo mundo ficar bem novamente!!!



Foto de família

É sexta-feira, último dia de aulas antes do feriadão, minha filha está na pré-escola, ela tem 3 anos e meio,  é sempre um dia mais agitado para voltar para casa, as crianças tem o poder de intuir o final de semana melhor que eu ou você, ela não sabe usar um calendário, mas ela sabe que final de semana só significa uma coisa: muita energia para gastar. 
Adultos costumam chegar na sexta-feira estropiados, morrendo de vontade de relaxar, dormir, ser feliz, comer bem e só viver coisas boas. Crianças também, com a diferença que comer e dormir não são coisas essenciais se você tem um adulto para se incomodar com isso por você.   
Chegamos em casa e eu penso se dou aquela geral na mochila dela de uma vez ou se deixo para o próximo dia de aula, no caso só depois do feriadão, então decido não acumular coisas para fazer e enquanto ela se acomoda para lanchar, vou esvaziando a mochila, roupas que não foram usadas durante a semana, o pote das frutas, necessaire com a escova de dentes, e por último a agenda. Todo pai sabe que uma agenda bacana é aquela que só estão marcados os sim's : sim comeu, sim foi ao banheiro, sim tudo ok. De vez em quando um papelzinho de rifa da escola, um convite para a festa de aniversário do coleguinha, no começo do mês o cronograma com os dias de aula e etc, um pedido especial para alguma atividade.  
É óbvio que todos os pais admiram e curtem que os filhos estejam desenvolvendo coisas diferentes e interessantes na escola, coisas que muitas vezes eles mesmos não possuem tempo para se dedicar, mas às vezes pode ser aquela fantasia difícil de encontrar naquela semana que você não tem tempo, ou aquela garrafa pet que você também não tem, pois não consome refrigerantes e também não compra água mineral pois tem filtro em casa. Alguns pedidos são mais fáceis de atender e outros mais complicados, mas ao menos uma vez por mês existe um pedido, e é sua responsabilidade como pai ou mãe ou ambos atendê-lo, a escola faz a parte dela, você faz a sua, crianças saem ganhando. 
Quando abri a agenda eu vi um bilhetinho em anexo: ''Senhores pais: (...)  
Dessa vez o pedido era uma foto em família. Confesso que passei um bom dia pensando em como lidar com isso, algumas pessoas devem achar isso uma bobagem ou uma coisa simples de se resolver, afinal é só pegar uma foto e mandar na agenda da criança, ou se você não tem uma foto, escrever isso na agenda. Simples. É simples.  
Ok. E se não for simples? E se uma simples foto pode ser algo mais complicado que uma foto? 
Gosto de dizer que sou mãe solteira, eu sou mãe e também sou solteira. Mas isso não quer dizer que o bebê tenha brotado por geração espontânea, lá no comecinho de tudo existiu um relacionamento entre dois adultos, pelo menos é assim que a gente gosta de lembrar né hahaha 
A verdade é que eu e o pai da minha filha nos separamos antes dela completar 1 ano de vida, e não foi sem bastante esforço, embora nós dois amemos demais nossa filha, não formamos um bom casal, coisa que decidi muito rápido e também impus tão logo decidi. Todas separações são complexas, até romper com um peguete gera um certo trauma, uma sombra que dure nem que seja por 15 minutos ou um final de semana. Imagina decidir se separar do pai da sua filha de 10 meses. A separação não foi amistosa, embora minha filha desde então tenha passado sempre 1 dia do final de semana com o pai, nós não nos relacionamos bem, motivo pelo qual escolhemos ter poucos momentos de contato. Pra quem acha que isso é a solução mais fácil vou acrescentar que só ficou deste modo depois de mais de ano tentando ter uma relação saudável de dois adultos separados que tem um filho em comum: idas ao parquinho, almoços e etc. Não deu certo, esses contatos geravam situações desagradáveis para mim, para minha filha e uma puta raiva do pai dela. Achei mais saudável não termos quase nenhum contato até que as coisas evoluam mais a nível individual.  
Então eu sou mãe, sou solteira, e minha filha vê o pai aos finais de semana, que é um evento tratado com bastante carinho por todos envolvidos. Como eu ainda não ganho o bastante para termos uma casa só nossa, e como criar uma criança pequena sozinha é complicado até para ir ao banheiro ( e porque somos muito amadas e recebemos um apoio fenomenal) moramos com a minha mãe. Moramos com minha mãe e a esposa dela. Sim, minha mãe é casada com uma mulher há 13 anos. Não, eu nunca achei isso nojento ou difícil de aceitar, eu estava terminando o ensino médio quando elas se conheceram, e acho louco demais de tão lindo encontrar o amor novamente depois de 18 anos de casada com o meu pai. Acho que minha mãe tem uma baita estrela, porque além de sair de uma relação desgastada a ambos, e amargar aquele período de divorciada muito chato, conhecendo caras malas, ela conseguiu se apaixonar por uma mulher que faz aniversário um dia depois do meu pai, que aliás comemorava no mesmo jantar, porque era um cara muito bacana e gregário, meu pai nunca foi um neurótico enrustido, isto é até ele falecer, em abril de 2012. 

Ainda lembro bem de que em uma visita a ele no hospital, meu irmão comentou a minha roupa, perguntando se aquilo era roupa de mãe ( na época eu ainda estava com o pai da minha filha, e usava uma saia e uma blusa justa com aquelas mamas que Deus abençoa as mães que amamentam, meu pai faleceu quando a pequena tinha apenas 6 meses) E meu pai, mesmo frágil pela doença, olhou meu irmão com um meio sorriso e disse: ''mas o que tu esperava, é uma roupa de mulher, eu achei linda'' . Essa é uma situação típica que explique um pouco que tipo de cara meu pai era, alguém educadíssimo, amável, interessado nas pessoas e com uma mente mil anos luz na frente, óbvio que ele não só comemorava o aniversário dele junto com a esposa da minha mãe, como foi padrinho do casamento delas. 

Eu e meu irmão somos próximos, e pra mim os filhos dele são os irmãos que minha filha não tem, os primos são simplesmente a outra metade do coração da minha pequena.  
Minha tia, irmã do meu falecido pai é uma baita amiga e uma pessoa super presente nas nossas vidas, é a tivó da minha filha e faz questão de estar com ela. 
Nós temos férias muito loucas, por 2 anos seguidos já juntamos as granas e os trapos e alugamos a mesma casa para fazer nossa colônia própria de doidos unidos, com crianças correndo e pais fazendo churrasco, e eu meu irmão e minha cunhada bebendo uma cerveja na varanda a noite, depois de colocar as crianças para dormir. Ou fazendo uma maratona de Just Dance no Xbox para cansá-los, ou rindo com a tivó que acha simplesmente demais o quanto as artimanhas de nossos filhos nos colocam doidos. Vovó 1 e vovó 2 (minha mãe e esposa) costumam passar uma semana com a gente também, afinal elas gostam de viajar e possuem muitos amigos por aí, mas a regra geral é que nos encontramos em casa em fevereiro, depois que todo mundo curtir muito o verão. Quer dizer, eu sempre volto em fevereiro, elas ainda ficam uma ou duas semanas mais viajando, afinal minha filha precisa de tempo com o pai dela, e nós também precisamos de alguns dias sozinhas até voltar a rotina. 

Isso se eu não falar na minha avó que tem 13 bisnetos, e também convive com minha filha semanalmente, porque sempre nos visita, e a quem eu gosto de chamar carinhosamente de ''velha sem vergonha'' pois sou a única neta a quem ela permite piadinhas, inclusive perguntei se ela havia se depilado para fazer a cirurgia do marca passo mês passado. 

Sei que falei/escrevi demais, eu sei. E era só uma fotinho eim, um pedido na agenda da pré-escola da minha filha... Pois então, essa é a minha família, esta é a família da minha filha, sem falar nas pessoas da família do pai dela, pessoas de quem ela gosta muito e nos conta suas histórias.  
Eu acho a nossa família maravilhosa, incrível, muito unida, presente, dessa maneira única nos amamos muito. Minha filha vai a feira com as avós lésbicas, visitamos meu irmão para ver o bebê novo, tomamos chá com a bisavó, caminhamos pelo bairro com a tivó, meus sobrinhos vem dormir na minha casa, ela visita o pai todo fim de semana. Mas nós não temos uma foto de família. Talvez seja coisa demais para caber numa moldura.